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Conhecimento na estante

Editoras da USP, Unesp e Unicamp diversificam catálogos, com títulos que abrangem todas as áreas

 Publicado em  22/08/2019 às 12h20  Campinas  Cidades


Por Unicamp

As editoras acadêmicas têm a função essencial de difundir o conhecimento produzido nas universidades por meio da publicação de livros de importância científica, técnica, literária, artística e de interesse didático. “Se esse conhecimento ficar no armário, não servirá para nada, temos que colocá-lo em circulação”, afirma Márcia Abreu, diretora da Editora da Unicamp. “Somos mais de 100 editoras universitárias cumprindo esse papel”, observa Lucas Antonio Moscato, diretor-presidente da Editora da USP (Edusp). “A Editora da Unesp, provavelmente, é a que mais publica entre as acadêmicas, ao ritmo de 200 livros por ano, entre os físicos e os digitais”, estima o diretor-presidente desta fundação, Jézio Hernani Bomfim Gutierre.

Uma falsa impressão que Márcia Abreu procura dirimir é que as editoras universitárias publicam apenas a produção interna. “As pessoas confundem, pensam que a nossa se chama Editora da Unicamp porque seria uma reserva de mercado para os professores da casa. Não é verdade e é bom que não seja, pois temos como missão publicar livros relevantes das mais variadas áreas. Se houver um livro relevante de um professor da USP, publicamos aqui, e vice-versa. Os autores publicam onde acharem mais conveniente.”

Segundo Ricardo Lima, gerente de Produção Editorial, a Editora da Unicamp já publicou perto de 1.400 livros desde a fundação em 1982 e mantém em torno de 500 títulos em catálogo. “A média é de 25 a 30 títulos novos por ano, com 35 a 40 reimpressões – os mais vendidos são reimpressos a cada dois anos. Um livro que vende bem chega a mil exemplares nesse período. Na fase de acolhimento de uma obra, também estimamos seu preço de capa: ao submeter um livro, o proponente deve listar dois ou três similares e que já estejam no mercado; se o similar custa 50 reais e o dele vai custar 200, é um aspecto que o torna inviável.”

Márcia Abreu alerta para algumas editoras que, embora se digam acadêmicas, são chamadas de “editoras predadoras”, que assediam os professores por e-mails, cobrando um xis pela impressão e prometendo a entrega do livro em um mês. “Como professora do IEL [Instituto de Estudos da Linguagem], já recebi mensagem acenando com uma melhora de nota nos rankings, em troca de 600 reais por cinco exemplares: um para a Capes, outro para a Biblioteca Nacional (é obrigatório), o terceiro para a biblioteca do instituto e os dois últimos para o autor – é um truque para ganhar um pontinho no sistema de avaliação.”

A diretora considera importante fazer esta distinção porque editoras predadoras acabam se misturando com as universitárias. “Aqui não tem disso. Às vezes uma pessoa mais desinformada pergunta quanto custa para publicar um livro, só que a Editora da Unicamp não é uma gráfica. O autor precisa preencher um formulário prestando uma série informações sobre sua obra, que serão avaliadas pelo Conselho Editorial formado por especialistas nas várias áreas do conhecimento – e o nosso é bem representativo, com gente da engenharia, física, educação, história, biologia, letras e inclusive um advogado como membro externo.”

Se o Conselho Editorial acolher o livro, prossegue Márcia Abreu, ele é encaminhado para dois pareceristas especialistas no tema. “Os pareceres devem ser substantivos, e não um simples ‘ok’. Se um parecer for positivo e outro, negativo, podemos solicitar um terceiro parecerista, ou então devolver o livro ao autor, que tem um prazo para discutir com o parecerista negativo e, se for o caso, fazer reconsiderações. É um sistema interessante porque o parecerista pode apontar lacunas despercebidas pelo autor, como por exemplo, a existência de uma bibliografia mais recente.”

Ricardo Lima informa que uma forma de encaminhamento de títulos é o fluxo contínuo, em que o autor entra no site da Editora da Unicamp e submete seu livro em qualquer dia do ano. “Outra forma, criada nesta gestão, é de editais de livros voltados à graduação, com data e prazo para que sejam escritos. Há necessidade de obras para uso em sala de aula, não necessariamente didáticas, mas também de pesquisas de alto nível. Como temos cursos de referência, um livro pode sair direto da Editora da Unicamp para as federais do Ceará ou do Rio Grande do Sul. Temos, ainda, docentes que utilizam um material em suas aulas há anos, mas deixam na gaveta ou à disposição dos alunos para cópias, quando ali está um livro pronto para a graduação.”


Edusp e Unesp

Lucas Antonio Moscato, diretor da Edusp, atendeu à reportagem na véspera da segunda reunião do Conselho Editorial, que deve ocorrer mais uma ou duas vezes no ano. “Amanhã teremos uma pauta com 14 propostas de publicação, mediante pareceres favoráveis muito bem elaborados, que indicam não apenas se o livro é bom, mas trazendo a análise de vários itens e muita informação sobre os conteúdos. Cabe ao Conselho acompanhar os pareceres ou não. Temos representantes das várias áreas da USP – que é bem completa em termos de cursos – e também de pessoas externas, sob a presidência do jurista e diplomata Rubens Ricupero.”

Moscato informa que a Edusp publica aproximadamente 45 títulos por ano, também em outras línguas (inglês, francês, espanhol), bem como traduções propostas pelos autores para o português. “Há pouco tempo também iniciamos um programa de livros didáticos, voltado a alunos da USP e de outras instituições, e já publicamos cerca de 25 títulos, sendo que outros 25 estão sendo finalizados. Os professores são incentivados a produzir esse material, não no sentido monetário, mas por meio de professores substitutos para que fiquem isentos de cargas outras que retardariam a produção do livro.”

Jézio Gutierre, da Fundação Editora da Unesp, não atribui apenas ao perfil fundacional a expressiva produção de títulos em comparação com outras editoras universitárias, embora ressalte três elementos – ou “independências” – que julga interessantes. “Em primeiro lugar, a independência financeira, pois fazemos com o dinheiro o que gerencialmente consideramos do interesse da fundação. A independência administrativa, com total liberdade na gestão dos nossos negócios. E, o elemento mais importante, que é a independência editorial: a Editora não veicula, por exemplo, ‘carteiradas’ da burocracia acadêmica, levamos em consideração, fundamentalmente, o mérito, a constituição de catálogo e a penetração de mercado.”

O diretor explica que a Editora da Unesp recebe subsídios para publicações docentes, especialmente para programas não lucrativos, que são integralmente financiados pela universidade. “Quanto aos que chamamos de livros de balcão, eles se financiam, a venda dá conta dos custos. Isso leva ao pressuposto de que precisamos ter uma presença maiúscula no mercado. Por isso, preservamos de maneira muito cuidadosa e intensa os canais de distribuição, que é feita em todos os estados do país. O processo de seleção de títulos segue critérios, avaliações e pareceres idênticos para autores da Unesp, USP, Unicamp ou de outra universidade brasileira ou estrangeira. Todos disputam espaço em igualdade de condições. ”

Conforme Gutierre, a fundação tem perto de 1.800 títulos ativos e recebe anualmente 800 propostas de publicação que, antes de chegarem ao Conselho Editorial que ele próprio preside, são obrigatoriamente submetidas a pareceristas, com exceção dos clássicos. “Seria estranho mandar para parecer uma obra de Platão. Mas a publicação de clássicos envolve outros critérios, como em relação a nichos a enfatizar: determinados períodos, autores e temáticas – é importante que não sejamos caóticos na mira dessas obras. Estamos publicando Günter (integral) e também clássicos contemporâneos como Adorno e Habermas. É importante, ainda, considerar a viabilidade técnica: não podemos entrar em searas como dos clássicos árabes sem tradutores de extrema confiança.”


Títulos em inglês

Uma ação importante e inédita da Editora da Unicamp tem disso a de levar seus livros para publicação em inglês, possibilitando que sejam disseminados pelo mundo. Uma parceria com a editora inglesa Springer já conta com quatro títulos aprovados, que também terão o selo da Unicamp na capa: Grupos de Lie, de Luiz San Martin (IMECC); Capitalismo e colapso ambiental, de Luiz Marques (IFCH); Freud: o movimento de um pensamento, de Luiz Roberto Monzani (IFCH); e A educação superior na América Latina, de Simon Schwartzman.

A Editora da Unesp, informa Jézio Gutierre, já negociou diversos títulos em mais de 15 países, embora considere uma tarefa extremamente ingrata para a academia brasileira. “Sabemos que o português não é uma língua muito acessível e tanto para nós, como para editores estrangeiros, não interessa aumentar a pauta de custos contratando traduções. E deixemos claro que os coeditores no exterior não visam a difusão da cultura brasileira, o objetivo é trivialmente (e saudavelmente, nada contra) comercial. Isso vai ao encontro dos objetivos institucionais de nossas editoras e também dos objetivos profissionais dos autores selecionados para esses programas.”

Contexto político

Além do esforço para cumprir sua missão institucional de divulgar o conhecimento produzido por professores e pesquisadores, as editoras acadêmicas vivem agora um contexto de ataques às universidades públicas, e as reações diferem. “Os aspectos atacados são de outra natureza, não são contra a atividade final acadêmica”, diz Lucas Moscato, diretor da Edusp. “O risco para as editoras universitárias é se o orçamento ficar muito reduzido a ponto de terem problemas para se manter, risco que não vejo, pelo menos no estado de São Paulo – não sei como estariam as outras editoras, principalmente das federais. Mas o nosso papel é tão importante e os resultados tão significativos que não vejo perigo. As editoras acadêmicas permanecerão como um setor importante na publicação de livros.”

Para Gutierre, da Unesp, os ataques fazem com que se considere a editora acadêmica como elemento realmente constitutivo da universidade. “Na hora em que a universidade é atacada, todo o seu corpus é atacado; se o corpo-mãe é esfarelado, não existe a chance de que a editora sobreviva. A única razão para que a universidade se envolva na área de edição é para que esta sirva como canal de comunicação interacadêmica, fornecendo a sua produção para a comunidade científica como um todo e, também, sendo um foco de internalização da produção de fora da universidade. Se a instituição é depauperada, não há porque comunicar aquilo que não está sendo mais produzido ou absorvido. Não posso ver editoras acadêmicas fortes em universidades frágeis.”

 



A questão dos e-books

Uma pergunta frequente feita a Márcia Abreu, diretora da Editora da Unicamp, é por que não o e-book ao invés do livro impresso, por conta da rápida acessibilidade, baixo preço e maior circulação. “Isso não é verdadeiro. Carla Fontana, editora-assistente da Edusp, apresentou na Associação de Editoras Universitárias uma grande pesquisa junto a professores, pesquisadores e alunos, antes do lançamento de e-books pela USP. A constatação foi de que eles compram livros, mas não o digital. Argumentam que, se for para baixar da internet, tem que ser grátis; ou que há risco de o sistema operacional mudar e o e-book deixar de funcionar, enquanto o livro em papel estará sempre na estante.”

A pesquisa de Carla Fontana, Livros Eletrônicos na Universidade, fez parte de uma estratégia pensada pela Edusp para a criação de um catálogo de obras digitais que atenda efetivamente às demandas de seus leitores e autores. Um questionário ficou disponível ao público por um mês, atraindo mais de 6.000 participantes. Apenas 32% afirmaram já ter comprado livros eletrônicos, sendo que 47% já adquiriram, mas os baixaram gratuitamente; outros 20% nunca compraram nem baixaram. Como desvantagens do e-book em relação ao livro impresso, 59% responderam que a leitura em tela é cansativa, 26% que não querem ficar dependentes de baterias e 26% que não podem tocar no livro e colocá-lo na prateleira. Outros 43% destacaram a importância do hábito de anotar ou grifar trechos de livro para os leitores de obras acadêmicas.

Para Lucas Moscato, diretor da Edusp, o livro eletrônico deu certo, mas não em volume alto a ponto de substituir qualquer outro tipo de publicação, como imaginavam principalmente as empresas distribuidoras. “Isso não aconteceu, mas é um meio importante de distribuição de livros, que atinge bastante público e a preço bem baixo – e o preço é um fator importante para uma publicação atingir seu efeito final. Nossa editora está nesse meio e deve continuar. Eu, por exemplo, pego títulos por meios eletrônicos a preços baixíssimos ou até de graça, e fico muito feliz de poder ter mais livros. E hoje há um processo de edição que permite ter o livro impresso e também o eletrônico.”

Jézio Gutierre, da Unesp, não tem dúvida de que o livro digital veio para ficar, a ponto de sua editora atingir uma média de 45 mil downloads em 17 países. “É uma marca impressionante do ponto de vista da comunicação acadêmica. Há características do livro digital que são imbatíveis, como a imediatez e a universalidade. Mas estamos falando de disponibilização gratuita, o que é diferente de publicação de e-books como fonte de receita. Carla Fontana talvez tenha feito uso do livro Words onscreen, de Naomi Baron, que traz uma compilação de todas as pesquisas a respeito da recepção discente às publicações digitais. É uma pesquisa mega, financiada pela HP e que cobriu Canadá, Estados Unidos e parte do México, com conclusões arrasadoras, entre outras, que mais de 90% dos alunos preferem o livro em papel.”

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